quarta-feira, 24 de junho de 2009

Olho de peixe


Tenho um olho de peixe no pé direito. Já faz tanto tempo que to mais pra dizer que é ele que me tem. Cinco, seis anos, nem lembro mais quando ele se incorporou à minha anatomia.
Chegou sem ser convidado. Apareceu, fui num especialista que o expulsou, mas, pelo jeito meu pé é muito hospitaleiro. O danado voltou. Parece que eu estava muito solitário naquela época, por isso resolvi ter um amigo, nele. E deixei ir ficando. Essa é só uma das muitas desculpas que dei pra não voltar no médico e expulsá-lo de uma vez.
Preguiça, solidão, lembrar que to vivo, falta de dinheiro, deixar pra depois. São vários os "motivos".
Hoje arrumei mais um.
Ele sempre dói do mesmo jeito, no mesmo pé e, quando fica insuportável, requer o mesmo tipo de atenção. Parece que eu preferi conviver com essa dor, justificar o meu mancar, a minha postura, com a existência dele, do que ter apenas mais uma estória pra contar e ir em busca de novas.
Existem dores confortáveis, essa é uma. Bela desculpa pra evitar tudo o que não doi, mas que pra ser alcançado, ultrapassa essa dor ou deixa meu companheiro magoado e sensível.
To entendendo que as vezes é muito melhor sentir uma dor conhecida do que suprimí-la e continuar na caminhada atras das belezas da vida.
Hoja, vou no médico.
Adeus olho de peixe.

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